sábado, 4 de outubro de 2008

DESGOSTO DA VIDA? UMA REFLEXÃO SOBRE O SUICÍDIO

Refletindo sobre a questão 945 de "O Livro dos Espíritos" que pensar do suicídio que tem por causa o desgosto da vida? Os Espíritos responderam: "Insensatos! Por que não trabalhavam? A existência não lhes seria uma carga!"

Sabemos que o suicida, além de sofrer no mundo espiritual as dolorosas conseqüências de seu gesto impensado de revolta diante das leis da vida, ainda renascerá com todas as seqüelas físicas daí resultantes, e terá que arrostar novamente a mesma situação provacional que a sua flácida fé e distanciamento de Deus não lhe permitiu o êxito existencial.

É preciso ter calma para viver, até porque não há tormentos e problemas que durem para sempre. Recordemos que Jesus nos assegurou que "O Pai não dá fardos mais pesados que os ombros".

O suicídio é a mais desastrada maneira de fugir das provas ou expiações pelas quais devemos passar. É uma porta falsa em que o indivíduo, julgando libertar-se de seus males, precipita-se em situação muito pior. Arrojado violentamente para o Além-túmulo, em plena vitalidade física, revive, intermitentemente, por muito tempo, os acicates de consciência e sensações dos derradeiros instantes, e fica submerso em regiões de penumbras onde seus tormentos serão importantes, para o sacrossanto aprendizado, flexibilizando-o e credenciando-o a respeitar a vida com mais empenho.

A religião, a moral, todas as filosofias condenam o suicídio, como contrário às leis da Natureza. Todas asseveram, em primeiro, que ninguém tem o direito de abreviar voluntariamente a vida. Entretanto, por que não se tem esse direito? Por que não é livre o homem de pôr termo aos seus sofrimentos? Ao Espiritismo estava reservado demonstrar,pelo exemplo dos que sucumbiram, que o suicídio não é uma falta somente por constituir infração de uma lei moral, consideração de pouco peso para certos indivíduos, mas também um ato estúpido, pois que nada ganha quem o pratica, antes o contrário é o que se dá, como no-lo ensinam, não a teoria, porém os fatos que ele nos põe sob as vistas."

Não há como falar do assunto sem evocarmos o sociólogo Emile Durkheim, que afirma existirem homens capazes de resistir a desgraças horríveis enquanto outros se suicidam depois de aborrecimentos ligeiros. Seria importante investigar a causa desta resistência diversa e o que contribui para essa estrutura maior ou menor. Interessante anotar que é nas épocas em que a vida é menos dura que as pessoas a abandonam com mais facilidade.

Considerada a doença do século, responsável por muitos dos suicídios, a depressão tem preocupado os especialistas. Os psiquiatras estimam que de cada grupo de 100 pessoas, 15 tem a probabilidade de desenvolver a depressão. E um distúrbio que ocorre por causa da alteração de substâncias como a serotonina e a noroadrenalina. O quadro depressivo é gerado por mudanças na produção e utilização dos neurotransmissores cerebrais (noradrenalina, interferona, serotonina e dopamina). Quando sua produção ou forma de produção se altera pode gerar a depressão e daí para o suicídio é uma porta escancarada.

E o suicida é, antes de tudo, o deprimido, e a depressão é a doença da modernidade. O suicida não quer matar a si próprio mas alguma coisa que carrega dentro de si e que sinteticamente pode ser nominado de sentimento de culpa e vontade de querer matar alguém com quem se identifica. Como as restrições morais o impedem, ele acaba se autodestruindo. Assim "o suicida mata uma outra pessoa que vive dentro dele e que o incomoda profundamente".

A obsessão poderia ser definida como um constrangimento que um indivíduo, suicida em potencial ou não, sente, graças à presença perturbadora de um ser espiritual. Vale a pena ler a descrição feita por Allan Kardec, em "O Livro dos Médiuns." (cap. 23, 44º, ed. FEB, RJ, 1981)

Diversas são as obras que comentam o assunto, assim temos como exemplo "O Martírio dos Suicidas", de Almerindo Martins de Castro, e "Memórias de um Suicida", de Yvonne A. Pereira. Por outro lado não podemos esquecer que Allan Kardec, no livro "O Céu e o Inferno" ou "A Justiça divina segundo o Espiritismo", deixa enorme contribuição em exame comparado das doutrinas sobre a passagem da vida corporal à vida espiritual e, especificamente, no capítulo V da Segunda parte, onde aborda a questão dos suicidas.

É verdade que após a desencarnação, não há tribunal nem Juízes para condenar o espírito, ainda que seja o mais culpado. Fica ele simplesmente diante da própria consciência, nu perante a si mesmo e todos os demais, pois nada pode ser escondido no mundo espiritual, tendo o indivíduo de enfrentar suas próprias criações mentais.

Jorge Hessen - Distrito Federal

Artigo publicado na Revista "O Espírita"

Dezembro de 2004 - Ano XXVII - Nº 118

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